27 março 2011

Fio D'água



Amor, de onde eu venho,
é escrito com três letras.
Pelos becos traçados, cortados de sol na terra,
os matutos marcados a faca cega
se espetam em flores
que não são rosas e quase nem são flores.
Murchas pendidas pra um lado, as flores já foscas
Encontram os olhos foscos da velhas sentadas
em cadeiras em falso.
Tricotam sobre o falho amor das meninas
tão novas que catam no chão rachado 
bonecas velhas e amores eternos.
Da outra margem do rio que já não é rio,
já não tem mais água,
o vento sopra o fogo brando da vela branca 
e desforme nas igrejas pequenas 
e quase profanas das esquinas barrentas
onde casam casais que,
nem sempre, mas quase, se amam...
que, nem quase, mas sempre, se chamam de "bem".
- Meu bem.
Mulheres que são quase bichos
sentam no chão de paralelepidos
soltos da praça
onde transborda rejunte de barro 
e esperam um "bem" mais terno,
sem talho no rosto e arma no cinto,
cheio de toques nas pernas
e beijos nas mãos,
Cheio lances de olhares,
Meio "sim", meio "não".
Passa, nessa rua sem nome,
que o mundo pensa não existir,
um moço baixo e magrinho, 
cabelo liso, escorrido pra trás,
sandália de couro tão velha que nem cheira mais.
Passa olhando pros lados, e para.
Assim, bem parado, 
Olhos bem abertos, boca meio fechada.
A moça que casa não olha. 
As outras que não, sim.
Ele segue até uma janela,
que já nem é janela -
Não sei bem porquê -
repousa a sua mão na mão dela
E derrama, declama, o seu
baixo e magrinho, mas sempre sincero,
- Amô.


                                            Lee

4 comentários:

  1. Lindo. Adorei, de verdade.

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  2. Gostei bastante. Parece conhecer bem esse lugar louca aí, né? shauhsuahsuahus
    Vocês são bem ligadas em Santiago de Compostela... :)

    Júlio Assis

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  3. Boa descrição.
    Gostei bastante, tem talento, menina.

    Sandro, PR

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